Faltam lugares na hospedaria

“O Menino recém-nascido teve uma manjedoura por leito, «porque não havia lugar para eles na hospedaria»”. Esta frase, carregada de simbolismo, pertence à homilia da Missa do Galo presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e lembra a forma como nasceu o Salvador.

Em paralelo, é feita a analogia com os dias de hoje, onde tantos não têm hospedaria, deixando-nos três perguntas: “Em que leito descansam os fugitivos de todas as Alepos de agora? Em que leito, os sem-abrigo da nossa cidade? Em que leito, os mal alojados e os desalojados do pouco teto que tinham e tiveram de deixar?”.

Agora que nos preparamos para desfazer os muitos Presépios com que, de forma quase espontânea, utentes, colaboradores e voluntários do “Lar de Sant’ana” ornamentaram a Casa, é irresistível sublinhar a força da Mensagem do Presépio num espaço, como este, que, há quase cem anos, serve de hospedaria – e que, tantas vezes, tal como aconteceu à Família de Nazaré, tem a porta fechada por falta de capacidade ou recursos para acolher mais hóspedes…

Comecemos pelos idosos. Quantos, quantos são os idosos que vivem nos bairros da nossa cidade, em casas pequenas, sem quartos de banho minimamente dignos, a partilhar quartos com netos e filhos? Quantos são, já hoje, os idosos mal alojados, alvo de diversas formas de violência? Como vai ser no futuro próximo, numa sociedade mais velha, mais doente e com menores recursos? Onde estão as hospedarias? Sim, onde estão os lares de idosos vocacionados para pessoas pobres?

Que bom seria, que tal como aconteceu há cem anos, se mobilizassem esforços para a construção de um novo Espaço, na cidade de Matosinhos, para idosos de baixos recursos, para aqueles que são mais marginalizados, os dependentes, que respondesse às necessidades presentes e futuras, e que permitisse que cada vez menos pessoas fossem viver a sua velhice para longe da sua terra natal. Enquanto não é possível desenvolver esta ideia, que o “Lar de Sant’ana” tem todas as condições para concretizar, resta fazer o que é exequível no curto prazo: aumentar a capacidade de resposta do Apoio Domiciliário, já a partir do próximo mês de Março, para responder às muitas solicitações dos que batem à porta desta Hospedaria.

“Em que leito, os sem-abrigo da nossa cidade?” Para quando um espaço onde, tantos dos sem-abrigo que hoje visitam o “Lar de Sant’ana” para tomarem as suas refeições ou tomarem banho, possam passar a noite? Para quando uma Hospedaria para aqueles que, queimados pela acidez da vida, jamais terão capacidade para, sem ajuda, arranjar albergue? Para quando a concretização deste projeto que, há mais de 20 anos, foi sonhado para Matosinhos?

Depois temos os “fugitivos”. Aqueles que sofrem a violência da guerra, aqueles que fogem da morte. Muitos desses, viram de forma trágica as portas fechadas do Mediterrâneo; outros, procuram agora hospedaria na Europa, tantas vezes ofuscados por pessoas sem escrúpulos que lhes vendem ilusões, e que os impedem de ver quem realmente os quer ajudar. Para os “fugitivos” de boa-vontade, a hospedaria do “Lar de Sant’ana” abrirá novamente portas já no início deste ano 2017.

“Que de Natal em Natal haja mais lugar na hospedaria”, conclui D. Manuel Clemente. Que o coração generoso de muitos permita concretizar estes projetos, para que mais velhos, mais pobres, mais sem-abrigo, mais refugiados possam encontrar acolhimento, aqui nesta cidade, aqui no Coração de Matosinhos – onde, não nos iludamos, faltam lugares na hospedaria.

 

António Pedro Correia


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